quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Crispin Porter: a maior lição para os brasileiros

Aqui, o bem estar das pessoas é importantíssimo, contanto que venha depois de todas as quatrocentas e setenta e duas prioridades “urgentes” que a brasileiríssima falta de planejamento de trabalho nos coloca todos os dias


Por Paulo Ferreira*

Lendo o artigo do Flávio Waiteman na sessão “entre aspas” do Caderno de Propaganda e Marketing intitulado “Invadindo a Crispin Porter + Boguski”, não pude resistir à tentação de escrever este comentário, destacando a mais valiosa lição da CPB para o mercado brasileiro. O artigo começa com a data da visita do Flávio à CPB: 29 de maio de 2009. Um sábado. E nesta informação está contida a grande lição da CPB para os publicitários brasileiros.

No citado sábado no qual o Flávio visitou a agência, que ele chama de “Meca, a Igreja de São Pedro, o berço do Buda” – o templo estava vazio. E esta é a informação mais valiosa do artigo. No sábado, os geniais profissionais da CPB não estão lá. Estão em casa, viajando, estão com suas famílias, estão andando de bicicleta, visitando exposições, vendo filmes. Por isso, quando eles voltam, na segunda-feira, tem suas vidas enriquecidas, novos conhecimentos, estão relaxados, viveram, curtiram. E então podem criar, de verdade. Ou alguém tem dúvida que é isso que eles fazem, e muito bem?

O Flávio cita ainda que a CPB tem um departamento com 10 (DEZ!) pessoas, que trabalha para garantir o bem-estar dos funcionários da agência. Ali, as pessoas são o ativo mais valioso que a agência tem, e ao contrário de muitos empresários brasileiros, vivem de acordo com o que dizem. “Walk their talk”. Aqui, a frase é bonita de dizer, sai fácil da boca de muita gente, mas quem pratica?

Aqui, o bem estar das pessoas é importantíssimo, contanto que venha depois de todas as quatrocentas e setenta e duas prioridades “urgentes” que a brasileiríssima falta de planejamento de trabalho nos coloca todos os dias. Alguém acha mesmo que uma agência que paga (e paga bem, obviamente) 10 indivíduos para cuidar do bem estar dos seus funcionários colocaria todos eles pra trabalhar no sábado?

O Flávio, no artigo, ainda ironiza “andar por aquelas dezenas de salas/casulos vazios. Em pleno sábado útil.” Pois é: esta é toda a questão, a diferença e a lição maior da CPB: ela trata seus funcionários com respeito, age de acordo com a filosofia de preservá-los, cuidar deles, porque é deles que vêm os milhões do faturamento.

A CPB sabe que levar seus funcionários ao burn-out; prática corriqueira das agências brasileiras, não faz sentido nenhum, é de uma estupidez atroz. Pelo menos para quem quiser um dia ter uma agência com as qualidades ( e os resultados) da Meca, Igreja de são Pedro, berço do Buda que é a Crispin, Porter + Boguski.

* Paulo Ferreira é publicitário, escritor, roteirista, músico e compositor, atua como consultor especialista em Gestão Estratégica de Negócios; é editor-contribuinte do All Music Guide e consultor de imagem e comunicação da Wasaby Innovation.